MESTRES \ Vaqueiros Tradicionais




MESTRE: Antônio Pereira da Silva
Nome Artístico: Doge Vaqueiro
Ofício: Mestre Vaqueiro Tradicional.


BIOGRAFIA DO MESTRE.


Antônio Pereira da Silva (Doge Vaqueiro), filho de Antônio Cosme da Silva e Odete Pereira da Silva, nasceu no Sítio Pataraba no Município de Farias Brito, Ceará, no dia 21 de janeiro de 1954.
Casou-se com Maria Pereira da Silva, no dia 8 de outubro de 1976 e, desse matrimônio, nasceram 4 filhos.
Seus pais, advindos de famílias simples e ordeiras, sempre trabalharam na lida do campo. Viviam da agricultura de subsistência e trabalhavam na fazenda como rendeiro, do tipo quatro por um, que existe até os dias atuais. Seu pai, entre outros trabalhos, exercia a profissão de vaqueiro. Nesse tempo, a pega de boi brabo na caatinga necessitava de um bom animal e um homem experiente na montaria e destemido, para enfrentar a caatinga com plantas espinhentas e terrenos acidentados, afirma Doge.
Esse tipo de aventura, essa marca cultural, seu pai praticava no Sítio Pataraba, em Farias Brito. Tem um ditado popular que diz: “Filho de peixe, peixinho é”, afirma Doge. E foi o que aconteceu na família de Antônio Pereira da Silva. Seu pai foi vaqueiro e despertou interesse no filho que, desde menino, apaixonou-se pela profissão.
Relata Doge que, no sítio onde residia, existia um homem que se chamava Jesus de Joel, vaqueiro respeitado entre Farias Brito, Altaneira e Ponta da Serra, no Crato. Ele começou a acompanhar Jesus de Joel zelando animal de campo, da sela, da corda de laçar e outros equipamentos de luta do vaqueiro mito na região. Com 14 anos, ele, conhecido popularmente como “Doge”, começa a competir, adquirindo experiências nos campos de sua terra natal.
Aos vinte anos, Doge passa a residir na cidade de Assaré trazendo consigo um vasto aprendizado na lida de gado, conhecimento esse que o torna popular na cidade, como o vaqueiro Doge.
Em Assaré, os trabalhos continuaram e o popular “Doge Vaqueiro’’ começou a fazer história no município, desenvolvendo o exercício, por encomenda.
Sempre disposto, nunca rejeitou uma proposta para trabalhar, fosse em localidades próximas ou distantes, e sempre fora contratado por criadores de gado. Com muito carinho e conhecimento do ofício, tomava conta do gado até o final do contrato, respeitando as decisões do patrão.
Ademais, nutria uma admiração ímpar pelo pai de Jesus de Joel, que sempre morou na Pataraba. E, nesse ofício herdado do pai, Doge enfatiza, também, a prática de seu exercício com os companheiros Antônio Raimundo e Antônio Laurindo, dois excelentes vaqueiros por quem tem forte admiração.
Doge justifica que também é conhecido como DOGE DAS CARROÇAS, porque nas horas entre uma diligência e outra na labuta do gado, trabalhava como carroceiro, profissão que exerceu por muitos anos, mas se considera mesmo, genuinamente, um vaqueiro.
Seu trabalho foi iniciado aos quatorze anos, tornando-se vaqueiro profissional aos vinte e um anos. Em seu saber, diz que um vaqueiro de verdade tem que saber curar uma bicheira, fazer parto de uma vaca, aplicar remédios veterinários ou de plantas da nossa flora, que tem poder curativo, perceber se o animal está doente, olhar o manejo das roças de pastos, cercar e desmochar o gado e ter bom calçado, uma perneira, um peitoral, um gibão, um chapéu de couro, um chicote, corda de laçar (de preferência duas), umas boas celas, arreios de cabeça e um bom animal. Porém, “Doge”, aos 21 anos, começou a campear em “panos”, como dizem os vaqueiros. 20 anos depois, foi que “Doge” conseguiu comprar seu equipamento completo. Sua dedicação era tão grande que, às vezes, campeava doente, diz ele.
Relata: “derrubei o boi com a ajuda dos colegas, mas, muitas vezes, sentindo febre”. ‘‘Uma vez, na Formiga, fui pegar uma novilha com meu companheiro nego Samuel. Foi uma das mais difíceis de pegar. Nunca errei carreira. Muitas pessoas me perguntavam se eu sabia de reza, porque peguei vários touros e novilhas mandingueiras.’’
Relata ainda, ter corrido atrás de um boi mandingueiro na Serra de São Romão, entre Altaneira e Farias Brito. O boi enganou duas vezes, até que pegamos. “Passamos uma semana andando com o boi e, quando ele chegou no curral, morreu no dia seguinte.’’ ‘‘Nessa lida, nunca tive um acidente grave. Já caí do cavalo, mas nunca um boi me machucou.”
Na luta incessante com uma boiada, por um longo tempo, é comum o gado “reconhecer” a voz do vaqueiro e isso é importante para traquejar a boiada. ‘‘Hoje, tem vaqueiros mais jovens trabalhando comigo. São os filhos do vaqueiro Suer, que recebem meus conselhos e procuro orientá-los na lida do campo, onde digo: primeiro, ter amor à profissão, depois, fazer como manda os donos do gado, assim não faltará serviço’’, relata, mais uma vez, Doge Vaqueiro.
O vaqueiro, quando fala em laçar o gado, diz que seu forte é laçar montado, para laçar a rês por cima, tanto no curral, quanto no campo na pega do boi.
Diferente de Renato de Chico de Sitonho, também vaqueiro muito conhecido em Assaré, que laça do chão.
Em relação às vaquejadas tradicionais, só lamenta. Era muito importante esse tipo de realização cultural, pois o campeão é quem derruba o boi mais rápido.
No início da profissão, não usava cachorro para campear, mas hoje tenho “LOBINHO” que ajuda a localizar o boi, atrapalhar a corrida dele e até pegar no mocotó ou no focinho. O vaqueiro Doge, possui umas vinte cordas de laçar e seus equipamentos de uso particular, e também para emprestar aos amigos, quando eles precisarem para a lida do campo.
‘‘Meu sonho, é que essa profissão nunca tenha fim e que novos vaqueiros surjam para dar continuidade ao trabalho, que faço com muito amor.

Pela exposição desses fatos e outros motivos, a Gestão Municipal e a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer de Assaré concedem o título de Mestre dos Fazeres e Saberes Populares, na modalidade Vaqueiro, ao senhor Antônio Pereira da Silva (Doge), por entender que ele é um guardião da Cultura Popular do Assaré – CE.



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MESTRE: João Duarte Pinheiro    ( IN MEMORIAM )
Mestre João Duarte

João Duarte Pinheiro (João Duarte) nasceu em 06 de março de 1918, filho de Joaquim Duarte Pinheiro e Rosa Esmeraldina de Souza. Casado com Josefa Alexandrina de Avelar, no dia 07 de março de 1943.
De seu casamento nasceram os seguintes filhos: Josefa Duarte Pinheiro, Pedro Duarte Pinheiro, Benedito Duarte Pinheiro, Francisco Duarte Pinheiro, José Duarte Pinheiro, Damião Duarte Pinheiro, Luzia Duarte Pinheiro, Antônia Fatima Pinheiro, Luzia Socorro Pinheiro e Luzia Tânia Pinheiro. Tendo ainda aumentado sua família com mais quatro filhas adotivas: Maria Gonçalves de Alencar, Rosa Esmeraldo Pinheiro Oliveira, Luzia Pereira de Amorim e Paulo Pereira de Amorim.
“Filho de peixe, peixinho é”, João herda o dom do pai, que era vaqueiro profissional aos dez anos, ajudando-o no manejo com o gado no Sítio Cachoeira, na fazenda do senhor Felipe Bezerra, onde o pai recebia a renda do gado de quatro, uma.
Ele, tornou-se vaqueiro profissional aos 15 anos e trabalhava para ajudar à família. Aos 25 anos, casou-se e passou a montar sua casa na luta do gado.
Era, sem dúvida, de uma família de vaqueiros, pois além dele e do pai, existiam Israel Duarte Pinheiro e Benjamim Duarte Pinheiro, excelentes profissionais. João Duarte trabalhou até o ano de 1957, em uma fazenda no Sítio Cachoeira. Dizem, que seu pai pegava boi a qualquer hora ou tempo: seja no sol ou na chuva; de noite ou de dia. João era homem bravo, pegava boi mandingueiro, porém sofreu acidentes graves. Por exemplo, no Sítio Boqueirão, hoje Boqueirão das Baratas, foi passar em baixo de uma árvore, bateu a perna num toco e quebrou. Não tirou a perneira, conseguiu vir à cidade e foi tratado por Dr. Gentil, que colocou na perna duas telhas e mandou para casa, repousar. Com 60 dias, já estava na luta com o gado. Noutro acidente, quebrou várias costelas e quase morreu. Porém, Doutor Gentil lhe trata, novamente. O terceiro, um dos mais graves foi quando em suas andanças campeando no Município de Crato, uma ponta de madeira entrou em seu olho e saiu no ouvido. Dessa vez, foi atendido por um oculista daquele Município.
Com suas economias, comprou o Sítio Barbosa, onde passou a lidar com o gado e produção de algodão. Lutou com gado até aproximadamente 75 anos, quando adoeceu e só lhe restou saudade da lida do campo, onde foi considerado herói na pegada de boi. Por esse motivo a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal lhe condecoraram com o título de Mestre da Cultura Assareense, na modalidade vaqueiro tradicional.



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MESTRE: José Barata Pinto      ( IN MEMORIAM )
Mestre José Barata

No dia 18 de julho de 1928, no Sítio Boqueirão, nasceu José Barata Pinto, filho de Francisco Barata e Antônia Pinto Pereira que carinhosamente era chamada de “Mundica”. Os pais de José Barata Pinto moravam no Boqueirão e eram donos da propriedade. Naquela época, existiam duas profissões que o matuto sertanejo aprendia: agricultor e vaqueiro. José herda do pai as duas profissões, mas se destaca na profissão de vaqueiro. Desde muito jovem, já era respeitado pelos mais velhos da profissão. Além de vaqueiro tinha habilidade para amansar burro brabo, e os animais era o único meio para transportar mercadorias, por isso não faltava animal na sua roça, para ser domesticado.
Era conhecido e respeitado por todos da região, principalmente pelos companheiros de profissão e fazendeiros. Encantou-se por uma sertaneja com o nome de Cândida Daniel Pinto, a bravura do vaqueiro por terra, paixão que com o consentimento de seus pais e dos pais de dona Cândida, casaram-se e foram morar no sitio Boqueirão. Deste matrimônio, nasceram nove filhos: Francisco Daniel Pinto, conhecido como Chiquinho de Zeza; Francisco Alcides Pinto, conhecido como Alcides de Zeza; Maria de Fátima Pinto Pereira; José Alzir Pinto; Antônio Aldir Pinto; Maria Socorro Pinto Freire; Maria das Dores Pinto; José Barata Filho e Rita de Cássia Pinto. Cria os 09 filhos na luta com a agricultura e na lida de vaqueiro, e sua esposa fiel companheira era responsável pela casa e educação dos filhos. 08 dos seus filhos, nasceram no Boqueirão, somente Aldair nasceu na Serra da Ema, quando José Barata Pinto vai morar na propriedade de Doutor Milton Montenegro, diretor proprietário da usina de despolpar algodão, localizada no Centro da Cidade de Assaré.
 Com o passar do tempo, seus pais morreram e o Boqueirão torna-se uma propriedade por herança. Com a fama de vaqueiro adquirida, ficou conhecido e apelidado de Zeza Barata e o lugar, para não confundir com outros Sítios Boqueirões, ficou e continua sendo Boqueirão dos Baratas, apelido herdado de sua bisavó segundo Fátima, filha mais velha de Zeza Barata. Dos filhos, quem teve vocação para ser vaqueiro, profissão do pai, foi: Chiquinho e Aldir. Segundo Fátima, a primeira perneira de Chiquinho foi feita das mangas do gibão de seu pai. Ele tinha 08 anos de idade, seu pai o levou para o campo e correram atrás de um boi. Quando Zeza Barata derrubou o boi, Chiquinho estava no pé entregando a corda para o pai amarrar o boi.
Por muito tempo, foi vaqueiro de Dr. Nilton Montenegro, depois foi vaqueiro de padre Agamenon até a sua morte e, em seguida, foi vaqueiro de Raul Onofre. Trabalhando para Raul Onofre, ele sofre um acidente grave, que lhe tirou dos campos, causando-lhe muita tristeza. Esse acidente foi nos Inhamuns.
Correndo atrás de uma novilha, foi frear o cavalo e a rédea rompeu-se, ele caiu de costas, quebrando os dois braços, ficando com fraturas expostas, e passando muito tempo para se recuperar.
Ficou viúvo, morando no Boqueirão. Lugar onde que ele fundou um parque de vaquejada, em 1951, continuando até hoje, a tradição dos bolões por filhos e netos.
Mesmo fora dos campos, nunca lhe faltou um animal de montaria e arreação completa: peitoral, gibão, perneira, careta, tendo usado até o fim da vida, o sapato carnal e seu chapéu de couro, símbolo de um vaqueiro dedicado.
Por esse motivo a Gestão Municipal e a Secretária de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer lhe conferiram o título de Mestre da Cultura do Município de Assaré.



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